29 de julho de 2011

— “Olá” — Ela começou assim aquela carta. Achou muito fria, então apagou.
— “Meu amor” — Achou meloso, parecia desesperada, resolveu apagar. 
— “Você está bem, Guri?” — Achou um pouco comum, mas ela deixou assim mesmo. E retornou a escrever.
— “Perdoe-me pelo egoísmo, mas não espero que esteja bem, não. Pra dizer a verdade, espero que você esteja sentindo a minha falta. Espero que você esteja com cheiro de saudade — assim como eu. Perdoe-me novamente pelo egoísmo, mas não suportaria te ver feliz em outros braços. Não queria que você pensasse que preciso de você, mas não há mais motivos para fingir.”Deu um gole no café que estava ao lado, ajeitou a postura, e voltou a escrever. 
 “Não quero que pense que eu sou mais uma daquelas necessitadas. Não quero que pense que sou como as outras mulheres que convivem contigo — não sou. Aliás, o que elas dizem sentir por você, não chega nem perto do que chamávamos de ‘amor’. Sei que não deveria julgar o sentimento alheio, sei que não deveria desejar o mal — eu também tenho defeitos. Talvez muito mais do que qualidades.
Vez ou outra, encontro-me relembrando daquela tarde em que te senti — em todos os sentidos. Fico recordando de cada segundo que passei abraçada contigo. Lembro-me das palavras que sussurrou no meu ouvido: ‘eu amo você’. Lembro-me perfeitamente de como timbre da tua voz fez com que essas palavras deixassem de ser clichê.
E agora eu me sinto vazia. Desde o dia em que você partiu.”
Sua letra já estava horrível, sua visão embaçada — não podia segurar as lágrimas. A tinta da caneta começava a borrar no papel. Mas ela continuou. Ele tinha que ler aquela carta.
 “Perdoe-me novamente, pelos possíveis erros de português, e pelos borrões que minhas lágrimas estão produzindo. Por incrível que pareça, eu acredito em nós. Acho que você deve me sentir. Não com a mesma frequência, nem a mesma intensidade que eu. Mas acredito que sim.
Ainda espero acordar pela manhã e ver seu rosto inchado de tanto dormir. E quando levantar-me da cama, verei a casa completamente bagunçada. Não quero que seja apenas eu e você. Espero ter muitos herdeiros. E um cachorro maior do que você. Espero que você também pense assim.
Quando perceber que me sente, vem. Eu estarei aqui esperando. Diga que quer ficar. Ou vá embora de uma vez. Mas não me deixe com seu silêncio.
Bons fins de semana, e boa sorte para nós.
Eu amo você, Guri.”
Ela sabia que não teria resposta. Achou aquela carta clichê demais. Amaçou, rasgou, e jogou os pedaços em uma caixinha de madeira — junto com os pedaços das outras quinze cartas que ela não havia mandado. Pegou outro pedaço de papel, e continuou.
Ela não mandaria nenhuma. E ela sabia disso. Tinha prazer em torturar-se… 

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